quarta-feira, 6 de junho de 2012

A você


Talvez seja inútil tentar colocar em palavras tudo que se passa na cabeça e no coração, mas é preciso tentar colocar em algum lugar, de alguma forma, caso não o fizesse, acredito que explodiria, é muita dor, muito amor, muitas lembranças, é tudo em excesso e “em excesso até o fracasso faz sucesso por ai”.
Vou te contar tudo, é a você que escrevo, na doce esperança que me escute em prece, ou de qualquer forma, porque não há como não querer ainda conversar, desabafar, te ver sorrir e até mesmo chorar, nem que suas lágrimas caiam através dos meus olhos.
Parece estranho dizer, mas não fiquei triste no dia da sua morte. Lembro quando me disse que queria que acabasse toda a dor que estava sentindo. Fiquei até feliz por ter finalmente encontrado a paz e quando enfim chegamos em casa aquele caixão fechado entrando porta a dentro arrancou da minha alma as lágrimas que a muito estava segurando.
Não fiquei triste durante seu velório. Sei que é ridículo dizer, mas tinha uma esperança estúpida de que você acordasse, dissesse que era brincadeira, se levantasse. Lembrei de quando te olhava dormir, sentia um medo imenso de te perder, mas então você sempre acordava e sorria pra mim.
No caminho para o cemitério comecei a sentir a mais profunda tristeza que um ser humano poderá sentir, me sugava as forças, pensei em não ter nem como continuar a andar e não sei descrever como o fiz, talvez fosse porque não queria ficar distante de você e precisaria continuar aquela caminhada aterrorizante.
Quando vi seu caixão aberto pela última vez comecei a notar o que realmente estava acontecendo e quando começaram a jogar toda aquela terra, eu quis gritar para que parassem, era meu pai ali em baixo e se precisasse de ajuda, tanta terra, iria pesar, mas não havia mais voz, não havia mais nada.
Escondi-me para surtar pela segunda vez e chorar. Devo dizer que todos os amigos que estavam comigo me deram tanta força que até arranquei sorrisos quando chegamos a casa, na nossa casa. Sabe, você conseguiu, pediu para que eu e meus irmãos nos uníssemos, pois estamos mais unidos que nunca.
Fui pra o cursinho na tentativa de fugir de tudo e lá surtei pela terceira vez. Mas até aquele momento as lágrimas me vinham do nada e paravam instantaneamente e eu de repente estava bem de novo. Eu dormi como um anjo naquela noite e você com os anjos, mas dormir é fácil, o difícil é acordar.
O dia que se seguiu foi o pior da minha vida. Veio à tona a certeza de não lhe ter mais e acredite, eu fiz de tudo para me distrair. A casa toda me lembra você. Seus óculos ainda em cima da mesa, seu perfume, sua escova de dente, suas roupas, seu cinto, seus livros, no alto da parede do meu quarto escrito “carpe diem” e a lembrança de nós dois fazendo aquela pintura desajeitada, todo carro igual ao seu que passa, eu olho desesperadamente e todas as plantas ao redor da casa, cheias de vida e você sem a sua.
Nunca imaginei tamanha dor e não a desejo pra ninguém. Ela lhe sufoca, ela vem do corpo, da mente, do coração e da alma. Sua vida é roubada e você continua respirando, seu coração ainda bate e você não entende porque ainda está de pé. Não se há voz suficiente para gritar ao mundo a vontade que tenho de você e que faria tudo pra ter você aqui.
Eu te amo tanto, a cada segundo mais e mais. As lágrimas agora caem do meu rosto o tempo inteiro, pois a todo o momento me desespero com o fato de que você não vai mais estar aqui.
Quando deito ainda lembro-me da última vez que te vi sair daqui de casa, lembro da última vez que dormi junto a você e a minha mãe, lembro do último beijo que te dei já com o corpo gelado, lembro da última vez que vi seus olhos e me lembro que a última coisa que me disse foi que me amava.
Hoje sei o que é um amor incondicional, sei que nada dura pra sempre, sei que sempre vou me lembrar de você e que essa dor jamais terá fim, sei tanta coisa e ainda não sei de nada. Mas a maior certeza que tenho é que sempre, sempre vou lhe amar, que eu te amo e que com você foi-se um pedaço essencial de mim.

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