sexta-feira, 9 de junho de 2023

Ridículas

          E no fim das contas, eu escrevi, por fim, uma carta de amor. Eu te escrevi uma carta de amor. Se para ser considerada carta de amor precise apenas de amor, não te escrevi apenas esta, mas se de fato precisa de uma declaração, acho que poderíamos chamar esta de pioneira. Mas declarações precisam trazer novidades? Tenho em mim que nada do que eu diga aqui você já não saiba, sei que apenas finge e foge da verdade estampada. Declararei da mesma forma, colcorei em palavras o que os olhos há muito já entregaram. 
          Eu gosto de você. Sei que já te disse antes, com todas as letras, mas anteriormente engoli o resto da minha confissão. Gosto de você não apenas como amigo. Venho me apaixonando aos poucos há algum tempo e acredite eu tentei lutar contra isso, mas me vi remando contra corrente quando te via todos os dias e pensava em você nas horas que não o via. Observa detalhes sem querer, me punha a rir sem porquê e sofria por bobagens, sim bobagens, pois sabia que não tinha direito a reivindicar nada. 
          Não me interprete mal, ou talvez sim, mas a verdade é detesto o fato de ter me apaixonado por você. Apesar de admirar o amor platônico e como ele consegue se sustentar apenas em um ideal, admito que vivê-lo não é algo a ser regozijado,pelo contrário, as vezes, torna-se excruciente, principalmente em nosso caso, pois acima de qualquer coisa há uma amizade que valorizo (e sei que também valoriza), e o cuidado, o carinho, a atenção, provém dela e nada mais. 
          A dialética que vivo agora pelo fato da saudade de não te ver, e da alegria de poder agora tentar te esquecer é o que me faz escrever essa carta. Tentar colocar pra fora o que me consome e me preenche, até o ponto de me fazer inundar. E ai, quando eu já tinha tudo planejado, você me beijou e o odeio por isso, por me fazer retrocedor, por fazer doer, por se calar. Mas no fim, talvez fosse isso que estivesse faltando, eu espero que seja. E hoje, sou eu que me calo. De resto, fica apenas esse adeus.
          

quarta-feira, 17 de maio de 2023

Cartas

                Hoje está sendo doloroso. Por uma bobagem, eu sei, mas são as pequenas dores as que mais incomodam. Como uma pequena farpa, difícil de ser arrancada, de ser vista, no entanto, sentida com intensidade.

                Me aconselharam a transbordar, mas pequenas dores não transbordam. Elas nos consomem e no diminuem para que em algum momento se tornem maiores que nós, e aí sim, se transmutam em lágrimas.

                Um oceano talvez seja a melhor comparação. Sim, um oceano inteiro que não se importa o quão bom nadador você é, ainda assim, ele te engole e faz de tudo para te afogar. E mesmo que no fim você se salve do tal afogamento, e apenas vague boiando por aí, ele irá te ferir, pois um oceano inteiro de água, jamais matará tua sede.

                 E é nesse vagar que perceberá que o mesmo sol que te esquenta, te queima a pele. Quem muito busca o calor, tende a se queimar. Afinal, até o ferro, no mar e no sol, enferruja, deteriora, muda e se torna frágil e gasto.

                Mas falávamos de dor, não é? Daquela que não pode ser vista, de feridas escondidas e muitas vezes imperceptíveis a olhares desatentos. Olhares que ainda cruzando com olhos vazios e negros como turmalina, não conseguem perceber a imensidão, o abismo, a solidão.

                É! O hoje se superou, me superou. Mas como temos a maldita mania de nos deixar consumir aos poucos, aguardarei amanhã pelo meu dia de praia.

sexta-feira, 5 de agosto de 2022

Reciclagem

Descartável, foi assim que me senti. Como um copo de plástico que você joga fora depois de saciar a sede. Colocada de lado como se não fosse nada e de fato, talvez eu não fosse. 
Eu nunca pensei em passar por isso, não dessa forma, eu não tive voz, ou escolha ou nada, mas que escolha tem o copinho de plástico. Amassado, rasgado, descartado. O nome por si só diz seu destino: copo descartável.
Não achei que com pessoas fosse assim tão fácil de se fazer. Sem que nem por que. Sem... Bem, de que adianta. Os destroços que foram jogando ao meu redor antes de me descartar estão aqui, me enojando, me permitindo pensar em como cheguei aqui. Mas a verdade é que pensar assim coloca em mim uma posição de escolha e eu não tive, fui jogada. 
Um dia OK, no outro. 
Talvez agora seja a hora de pensar em reciclagem. Juntar os cacos que um dia formaram a mim. E lembrar, nunca tentar valorizar a amizade de alguém que não acredita que ela teria futuro. 

sábado, 23 de julho de 2022

Plantações

A vida nada mais é que um emaranhado de acontecimentos e ironias que a cada dia nos surpreende, chocam e atingem em partes que por muito tentamos esconder.
Assim se fez em ironia numa tarde fria de sábado a leitura de um livro, que venho postergando em sua leitura.
A comicidade dos fatos se dá por eu ter a inocente crença em uma força que nos leva a determinados caminhos e assim ela se faz, quando em mim, por vezes, se desperta a vontade de ler ou assistir algo que havia deixado de lado esperando pela sensação de ser o momento certo a fazê-lo. 
Confesso que não foi tão somente a história que me golpeou, mesmo tendo ela sua parcela de culpa quando me pus a refletir entre as minhas muitas versões, e talvez a vontade de transparecer uma versão minha que alimento como uma vontade crescente de tê-la, ainda que saiba ser errada, apenas por estar cansada pelas marcas que a ausência dela me causam.
Ao final do livro, a dedicatória, devo confessar que já esquecida, me atingiu. A ironia... "Para aquela que segue colhendo uma plantação que nunca semeou"... Veio até mim, como uma onda que nos pega desprevenidos a beira do mar, o fato que minha última colheita, dolorida e sem razão, veio por sementes plantadas por você, o próprio autor.
Deixo aqui o desabafo da ironia de que tanto falamos disso, e que a mim atribuiu o poder de sorrir mesmo colhendo ervas, e o quão injusto achava. Veio por você as tais ervas daninhas que ainda estão plantadas no meu quintal, e por mais que os sorrisos disfarçados sigam florescendo com muito esforço, ainda me causam dor. 

terça-feira, 6 de novembro de 2018

Pausa para poesia III

Meu sexo tem gosto de você
Minha pele teu cheiro
Meus olhos teu prazer

Minha boca é tua casa
Nos meus braços é teu lar
Mas no meu coração...

Nesse já não há!