quarta-feira, 17 de maio de 2023

Cartas

                Hoje está sendo doloroso. Por uma bobagem, eu sei, mas são as pequenas dores as que mais incomodam. Como uma pequena farpa, difícil de ser arrancada, de ser vista, no entanto, sentida com intensidade.

                Me aconselharam a transbordar, mas pequenas dores não transbordam. Elas nos consomem e no diminuem para que em algum momento se tornem maiores que nós, e aí sim, se transmutam em lágrimas.

                Um oceano talvez seja a melhor comparação. Sim, um oceano inteiro que não se importa o quão bom nadador você é, ainda assim, ele te engole e faz de tudo para te afogar. E mesmo que no fim você se salve do tal afogamento, e apenas vague boiando por aí, ele irá te ferir, pois um oceano inteiro de água, jamais matará tua sede.

                 E é nesse vagar que perceberá que o mesmo sol que te esquenta, te queima a pele. Quem muito busca o calor, tende a se queimar. Afinal, até o ferro, no mar e no sol, enferruja, deteriora, muda e se torna frágil e gasto.

                Mas falávamos de dor, não é? Daquela que não pode ser vista, de feridas escondidas e muitas vezes imperceptíveis a olhares desatentos. Olhares que ainda cruzando com olhos vazios e negros como turmalina, não conseguem perceber a imensidão, o abismo, a solidão.

                É! O hoje se superou, me superou. Mas como temos a maldita mania de nos deixar consumir aos poucos, aguardarei amanhã pelo meu dia de praia.