sexta-feira, 5 de agosto de 2022

Reciclagem

Descartável, foi assim que me senti. Como um copo de plástico que você joga fora depois de saciar a sede. Colocada de lado como se não fosse nada e de fato, talvez eu não fosse. 
Eu nunca pensei em passar por isso, não dessa forma, eu não tive voz, ou escolha ou nada, mas que escolha tem o copinho de plástico. Amassado, rasgado, descartado. O nome por si só diz seu destino: copo descartável.
Não achei que com pessoas fosse assim tão fácil de se fazer. Sem que nem por que. Sem... Bem, de que adianta. Os destroços que foram jogando ao meu redor antes de me descartar estão aqui, me enojando, me permitindo pensar em como cheguei aqui. Mas a verdade é que pensar assim coloca em mim uma posição de escolha e eu não tive, fui jogada. 
Um dia OK, no outro. 
Talvez agora seja a hora de pensar em reciclagem. Juntar os cacos que um dia formaram a mim. E lembrar, nunca tentar valorizar a amizade de alguém que não acredita que ela teria futuro. 

sábado, 23 de julho de 2022

Plantações

A vida nada mais é que um emaranhado de acontecimentos e ironias que a cada dia nos surpreende, chocam e atingem em partes que por muito tentamos esconder.
Assim se fez em ironia numa tarde fria de sábado a leitura de um livro, que venho postergando em sua leitura.
A comicidade dos fatos se dá por eu ter a inocente crença em uma força que nos leva a determinados caminhos e assim ela se faz, quando em mim, por vezes, se desperta a vontade de ler ou assistir algo que havia deixado de lado esperando pela sensação de ser o momento certo a fazê-lo. 
Confesso que não foi tão somente a história que me golpeou, mesmo tendo ela sua parcela de culpa quando me pus a refletir entre as minhas muitas versões, e talvez a vontade de transparecer uma versão minha que alimento como uma vontade crescente de tê-la, ainda que saiba ser errada, apenas por estar cansada pelas marcas que a ausência dela me causam.
Ao final do livro, a dedicatória, devo confessar que já esquecida, me atingiu. A ironia... "Para aquela que segue colhendo uma plantação que nunca semeou"... Veio até mim, como uma onda que nos pega desprevenidos a beira do mar, o fato que minha última colheita, dolorida e sem razão, veio por sementes plantadas por você, o próprio autor.
Deixo aqui o desabafo da ironia de que tanto falamos disso, e que a mim atribuiu o poder de sorrir mesmo colhendo ervas, e o quão injusto achava. Veio por você as tais ervas daninhas que ainda estão plantadas no meu quintal, e por mais que os sorrisos disfarçados sigam florescendo com muito esforço, ainda me causam dor.